Na Rua Mário de Andrade
vou andar —
por ter sido Tarumã
e hoje ser Mário de Andrade
Ainda não sei onde é
mas vou procurar —
na rua Mário de Andrade
vou andar...
Vou ir com Macunaíma
rente às paredes
vou ir com Mário de Andrade
Ele, Mário, me diz: é preciso
flanar...
Eu digo a ele — ó Mário,
era o que eu ia te falar
É preciso flanar em ruas
— os passos levando sempre
para nenhum lugar
E Mário me diz: — Poeta,
nenhum-lugar é o melhor
lugar de um poeta chegar
Não há que ter nem começo
nem fim
essa antiga rua Tarumã
Como serão seus moradores?
Vou até lá
Saberão quem foi esse homem
bom — o da rua Lopes Chaves? Bem —
mas também ele não sabia
quem fora Lopes Chaves
Não há como não saber
quem foi o nome da rua
em que se morou ou vai morar
Se nome de gente, é bom
que ele desapareça
completamente
Não seja mais nem lembrança
nem a sombra de um homem
— como queria o poeta Bandeira
Talvez melhor conservar
rua Tarumã
mas vai ver que lá não existe
um pé de tarumã!
sequer uma criança
que conheça tarumã
(...)
Se houver flores nessa rua
Mário de Andrade — a todos nós
ela agradará
Se houver sobrados líricos
com janelas azuis ou verdes — pronto!
nada mais necessário será
para nutrir uns sonhos brancos...
(...)
Mas,
há de ser como ele foi
essa rua Mário de Andrade: simples
amiga — uma rua companheira —
uma grande alma de rua —
uma rua de óculos, de cara enorme
e de uma enorme ternura debaixo dos óculos...
Rua Mário de Andrade...
Manoel de Barros
Publicado no livro Poesias (1956).
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