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(...) A leitura de mundo precede a leitura da palavra (...) Paulo Freire

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Na Rua Mário de Andrade

Na Rua Mário de Andrade
vou andar —
por ter sido Tarumã
e hoje ser Mário de Andrade

Ainda não sei onde é
mas vou procurar —
na rua Mário de Andrade
vou andar...

Vou ir com Macunaíma
rente às paredes
vou ir com Mário de Andrade

Ele, Mário, me diz: é preciso
flanar...
Eu digo a ele — ó Mário,
era o que eu ia te falar

É preciso flanar em ruas
— os passos levando sempre
para nenhum lugar

E Mário me diz: — Poeta,
nenhum-lugar é o melhor
lugar de um poeta chegar

Não há que ter nem começo
nem fim
essa antiga rua Tarumã

Como serão seus moradores?
Vou até lá
Saberão quem foi esse homem
bom — o da rua Lopes Chaves? Bem —
mas também ele não sabia
quem fora Lopes Chaves

Não há como não saber
quem foi o nome da rua
em que se morou ou vai morar

Se nome de gente, é bom
que ele desapareça
completamente

Não seja mais nem lembrança
nem a sombra de um homem
— como queria o poeta Bandeira

Talvez melhor conservar
rua Tarumã
mas vai ver que lá não existe
um pé de tarumã!
sequer uma criança
que conheça tarumã

(...)

Se houver flores nessa rua
Mário de Andrade — a todos nós
ela agradará

Se houver sobrados líricos
com janelas azuis ou verdes — pronto!
nada mais necessário será
para nutrir uns sonhos brancos...

(...)

Mas,
há de ser como ele foi
essa rua Mário de Andrade: simples
amiga — uma rua companheira —
uma grande alma de rua —

uma rua de óculos, de cara enorme
e de uma enorme ternura debaixo dos óculos...

Rua Mário de Andrade...

Manoel de Barros

Publicado no livro Poesias (1956).

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